UNIVERSO , EVOLUÇÃO E SOBREVIVÊNCIA - por Nelson Travnik.
UNIVERSO , EVOLUÇÃO E SOBREVIVÊNCIA
Por NELSON TRAVNIK*
Há milhares de anos o homem acreditou ser a Terra um mundo privilegiado, o centro do universo. Todos os corpos celestes giravam ao seu redor. E ele mesmo um ser perfeito criado a imagem de Deus. Com Aristarco de Samos (310 -230 a.C.) e mais tarde com Nicolau Copérnico (1473-1543), ficou demonstrado que a Terra e os outros planetas giravam ao redor do Sol e que o movimento das estrelas à noite era aparente, causado pela rotação da Terra. Era desferido o primeiro grande golpe na vaidade humana e nas filosofias reinantes. O golpe seguinte viria com Galileu Galilei (1564-1642) ao apontar pela primeira vez em 1609, uma luneta de sua fabricação para o céu. Além de comprovar o heliocentrismo de Copérnico, realizou notáveis descobertas, mas que iam de encontro das concepções dos doutores da igreja. Destronar a Terra do centro do universo e da Criação, era inadmissível, uma heresia. Intimado pelo Tribunal da Santa Inquisição reunido no Convento de Santa Maria Sopra Minerva em 22/06/1633 a se retratar das ‘heresias’, ciente do risco que corria e não querendo virar churrasco, optou por desmentir o que escrevera e descobrira. Com isso, a pena máxima da fogueira foi convertida em prisão domiciliar para o resto da vida. Dizem que ao se retirar do Tribunal teria dito baixinho : Epur si muove , mas ela (a Terra) se move. Mais um golpe viria mais tarde com Edwin Hubble (1889-1953) descobrindo que a Via Láctea, a nossa Galáxia, não era mais do que uma entre muitos bilhões! Até então acreditava-se que todo o universo estava contido na Via Láctea. Um fato novo viria acontecer nos últimos 23 anos com a descoberta do primeiro exoplaneta ao redor de uma estrela, um pulsar. A partir daí, telescópios com dezenas de metros de diâmetro, radiotelescópios e telescópios espaciais permitiram aumentar atualmente seu número para mais de 6 mil exoplanetas. Acredita-se que existam somente em nossa galáxia milhões, bilhões a serem descobertos. Essas descobertas estão permitindo chegar a uma assustadora previsão de que existem no universo mais planetas que estrelas! É a coroação do que disseram entre outros, Giordano Bruno (1550-1600) e Camille Flammarion (1842-1925), ao defender a pluralidade dos mundos habitados. Isso está previsto para acontecer nos próximos 25 anos quando estaremos recebendo através dos nossos potentes radiotelescópios a tão aguardada mensagem: também estamos aqui! Quem viver verá. Depois que o homem pisou na Lua, será a segunda grande conquista da humanidade.
Há 214 anos, nascia o inglês Charles Darwin (1809-1882), autor da “Origem das Espécies pela Seleção Natural”. Nela Darwin diz que somos descendentes de vermes e moluscos que surgiram nas tépidas águas dos mares primitivos há 3,5 bilhões de anos. A comunidade científica e o clero estremeceram. A teoria evolucionista afrontava a Bíblia. Seu colega Alfred Russel paralelamente havia chegado a mesma conclusão. Mais tarde a teoria viria a ser comprovada cientificamente. Terminava o homem de barro e da costela. O papa S. João Paulo II em 1966 declarou que a Teoria da Evolução era mais que uma hipótese, um fato efetivamente comprovado e que Deus não teria agido como um mago com uma varinha mágica. Mas é assustador ver em nossos dias que algumas religiões e crenças não se rendem, negam a evolução e que os museus de história natural mostram, é uma mentira! Há cerca de 2,5 milhões de anos, um primata meio homem e meio chipanzé deu início a uma evolução lenta e progressiva pois a natureza não dá saltos. Isso é comprovado pelas descobertas de inúmeras ossadas com datação pelo C-14. Essa evolução aconteceu no sul e leste da África do Sul. Dois esqueletos quase completos foram descobertos na caverna de Malapa, com datação de 2 milhões de anos pelo C-14. O que a ciência procura numa tarefa quase inatingível é o elo de uma para outra espécie: quando teria ocorrido a mutação genética nos nossos parentes mais próximos. Depois do impacto da teoria de Darwin, em plena Era Espacial, ainda questionamos como podemos descender de seres inferiores se somos tão inteligentes, possuímos um sistema nervoso da mais alta complexidade e uma consciência agregada a uma variedade enorme de correntes filosóficas. A sobrevivência do ser humano sempre foi mantida graças a sua inteligência, resistência e o equilíbrio ambiental na qual as algas e não as florestas continentais são as principais protagonistas da fotossíntese. A historia da Terra pela geologia nos mostra a importância dos oceanos como a ‘mãe da vida’ . É do espaço que sentimos quão frágil é o planeta azul já alvo de cinco extinções em massa e impactos constantes de asteróides, o último há 65 milhões de anos extinguindo 80% da vida na Terra inclusive os dinossauros. Agora somos nós alvos com desmesurada agressão ao meio ambiente, os protagonistas de um futuro sombrio. Para a atual geração, vale sempre lembrar as sábias palavras do chefe Seattle, índio americano do século passado: “o que acontecer com a Terra, recairá sobre os filhos da Terra. O homem trançou o tecido da vida ; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo que fizer ao tecido, fará a sim mesmo”.
*Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
