DIA NACIONAL DA ASTRONOMIA
COMEMORAÇÃO
DIA NACIONAL DA ASTRONOMIA
Por Nelson Travnik*
No momento em que o Brasil estará lembrando 125 anos do desenlace do Imperador D. Pedro II, ocorrido em 05/12/1891 em Paris, astrônomos de todo o país comemoram nesta sexta-feira, 2, o seu dia.
Tudo começou durante o 2º Encontro de Astronomia do Nordeste, celebrado em Recife/PE, de 30/6 a 3/7 de 1978 quando aprovamos por unanimidade a Moção apresentada pelo Dr. Marijeso A. Benevides, para que fosse considerado D. Pedro II (1825-1891), ‘Patrono da Astronomia Brasileira’. A partir dessa escolha, a efeméride ganhou força e a data de 2 de dezembro, dia do nascimento do Imperador, passou a celebrar o Dia Nacional da Astronomia, o Dia do Astrônomo.
MOTIVOS
Foram muitos. Astrônomos que o conheciam eram unânimes em reconhecer que ele conhecia a fundo a ciência do céu. Modernizou o Imperial Observatório do Rio de Janeiro criado por seu pai D. Pedro I, contratando astrônomos europeus de renome. Nele possuía um gabinete para estudos e repouso. Mantinha contato com grandes nomes da astronomia entre eles o francês Camille Flammarion (1842-1925) que o convidou para juntos inaugurarem seu Observatório de Juvisy em 29/07/1887. Era Sócio Honorário da Academia de Ciências de Paris como também da Sociedade Astronômica da França, SAF, sob Nº 85 – o primeiro brasileiro a figurar nessa famosa entidade. Outro grande brasileiro também sócio da SAF sob nº 2871 foi o Pai da Aviação e astrônomo amador, Alberto Santos-Dumont. Sua devoção a ciência do céu pode ser avaliada em sua residência, o Palácio de São Cristovão, hoje Museu Nacional onde no telhado instalou um observatório astronômico que recebia alunos para aprender observar o céu e usar os instrumentos. Na área da pesquisa, realizou inúmeras observações importantes dentre as quais efetuou junto com Luiz Cruls do Imperial Observatório, a primeira análise espectroscópica de um cometa. Também empreendeu observações do eclipse solar de 1857. Sob forte oposição do Parlamento e até merecendo críticas e caricaturas na imprensa, concedeu as verbas necessárias aos astrônomos para instalar três missões científicas em Olinda/PE, Punta-Arenas, Patagônia chilena e na Ilha de S. Tomás, Antilhas, para observação da rara passagem de Vênus pelo disco solar em 06/12/1882 algo que somente iria se repetir em 08/06/2004. As observações foram um sucesso pois permitiram desenvolver cálculos precisos para determinar a distância Terra-Sol e com isso as demais distâncias dos outros planetas. Apoiando a pesquisa e as artes, incentivando o aperfeiçoamento na Europa, destaca-se nesse aspecto o compositor campinense Antonio Carlos Gomes, glória maior da arte operística das Américas. Mas nem tudo eram flores e várias vezes o Imperador teve que dispor de parte de seus proventos para contribuir naquilo que achava importante. De inicio, doou vários instrumentos ao Imperial Observatório, adquiriu uma luneta astrográfica para ser usada no programa internacional da Carta do Céu e por fim encomendou um grande telescópio na Inglaterra o qual, desgraçadamente, chegou ao Rio na ocasião da Proclamação da República e os republicanos não perderam tempo: mandaram o telescópio de volta a Inglaterra! Em 1890 já no exílio, D. Pedro II foi homenageado pelo astrônomo francês A. Charlois (1864-1910) que batizou com o nome ‘Brasília’ o asteróide numero 293 por ele descoberto no Observatório de Nice. “Modelo para todos os soberanos do mundo” assim o definiu o estadista inglês William Gladstone (1809-1898). Seus restos mortais repousam na catedral de Petrópolis/RJ, mas seu espírito certamente está em meio as estrelas que ele sempre amou.
*Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum/SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.